“A minha avó é de algodão e tem pálpebras de pano.”

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DIÁRIO DA REGINA GULLA

24 de janeiro de 2012. Eu – assistente editorial de infantojuvenis, Ana Célia Goda Cunha – editora do livro DIÁRIO DE UM NETO (Melhoramentos), de Regina Gulla, Laura Teixeira – ilustradora do livro e Tereza Kikuchi – designer (na época trabalhava no Estúdio Bogari) estávamos mergulhados na infância numa reunião memorável, poética e ilustrada. Era mais um dia de trabalho para que o DIÁRIO nascesse, mas para mim tudo era puro encanto, momentos que me faziam voltar a ser criança... o meu todo era algodão... pálpebras de pano... como a avó... e o tempo todo as palavras geladas eram desconhecidas... como o avô, pois ele se nega a pronunciar palavras geladas... Meus olhos marejados não davam confiança às pálpebras de pano. Só que depois, como a avó, eu teria de estender os olhos no varal para secar. Este dia (dos meus 6 anos na Melhoramentos) foi o dos mais belos. Por quê? Porque eu estava participando da ação criativa da Laura – uma das grandes ilustradoras do nosso país – em um livro de uma sensibilidade ímpar, de uma poesia grandiosa! A Literatura Infantil Brasileira se engrandece com os livros de Regina Gulla! Regina é fada. Tanto que as páginas do DIÁRIO são dedicadas à casa imaginária, morada preferida das crianças e dos poetas.    

Regina Gulla sempre me incentivava a ter um espaço de escrita, sempre se dirigia a mim com palavras quentes. O ninho do Passarinho nasceu em agosto passado e depois disse-lhe que ela era a madrinha do ninho. Na dedicatória de DIÁRIO, Regina também me emociona: “Meu querido compadre deste Neto, padrinho necessário, meu amigo Renato. Beijo da Regina Gulla.” E como me esquecer de sua presença na noite do meu último aniversário? O lançamento do livro na Livraria da Vila, em julho de 2012, também foi memorável. Muitas pessoas que admiro compareceram à festa do Neto! O autor Ricardo Filho e Heloísa Leandro – uma das vovós mais elegantes e apaixonadas pelos netos que conheço  - marcaram presença. “Meu avô vive tropeçando na palavra “trópicos” e diz que tropeçar nos trópicos deixa a gente caloroso. Enquanto isso eu me divirto com os flocos da palavra “neve”. Meu avô é muito decidido. Ele se nega a pronunciar palavras geladas.”

Passarinho chama você a conhecer esse DIÁRIO encantador! A poesia ali deixa tudo mais doce, como a goiabada da avó. Nesse universo, o frio não entra, pois temos o cobertor de letras e agulhas e as palavras não são geladas, elas vêm dos trópicos. Eu e Passarinho temos certeza de que você vai se apaixonar pelo Neto, pela avó – feita de algodão e pelo avô – que vive tropeçando nos “trópicos”, pois isso deixa a gente caloroso! “Meu avô teve de adiar começar a horta. É que as sementes estavam com o sono muito atrasado.”

A meu ver, DIÁRIO DE UM NETO é um dos livros infantis mais lindos e sensíveis que a Melhoramentos já produziu! Viva a poesia para as crianças de todas as idades!

BIO Regina Gulla

Regina Gulla é escritora e professora  de escrita literária na oficina Gato de Máscara. Tem diversos trabalhos publicados, entre eles os livros infantis “O Zelador de Sonhos” e “A Pele dos Livros” (ambos pela Editora DCL). “A Bala Perdida e o Violino” (Editora Planeta) é daqueles obrigatórios.

Saiba mais em: www.bosquesonhador.wordpress.com e www.gato-de-mascara.com.br

BIO Laura Teixeira

Laura Teixeira nasceu em 1976, em São Paulo. Estudou ilustração na Eina Escola de Disseny i Art, em Barcelona. É mestra em Design pela USP. Multifacetada, escreve, expõe e realiza oficinas em importantes organizações e centros de estudo. É membro do Coletivo Charivari e tem trabalhos publicados em diversos jornais e revistas. Escreveu e ilustrou “Número de Circo” e “Letra de Forma” (ambos pela Editora Hedra) e ilustrou “O Jarro da Memória (Editora Cosac Naify).

Saiba mais em: www.laurateixeira.com

Amigos, um ótimo final de semana e até sexta!

Dia 25, Passarinho se encontrará com A MENINA QUE PODIA VOAR (Habilis Editora), de Vinícius Linné e Mirella Spinelli.

Agradecimentos:

A todos que me emocionaram com compartilhamentos no facebook e com comentários belíssimos sobre o texto “Saudade para o dia das crianças”, principalmente estes dadivosos, que tiveram a gentileza de postar no PASSARINHO as suas impressões:

Heloísa Leandro, Pablo Morenno, Henriette Effenberger, Santiago Régis e Maria Emília Imparato.

Renato Coelho

Apaixonado pela Literatura Infantojuvenil.

5 comentários:

  1. Olha, Renato, a tua convivência com a literatura e com os autores, ilustras e editores me parece que dá o tom de seu temperamento, que é um temperamento poético por natureza, ainda que não necessariamente romântico... você gosta da linguagem do faz-de-conta!, é isso! Beijos e carinho da Regina Gulla

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  2. Bom Renato, não sei se consigo por em palavras o que a Regina Gulla representa para mim...ela é a janela aberta de onde posso escapar para minha própria vida. Quanto ao Diário de um Neto, vou escrever a parte que mais gosto:
    "Depois que ela chora,
    estende os olhos no varal
    para secar
    e não dar a perceber tristeza."
    Assim como você, aprendi a amar a linguagem do faz de conta!
    Beijos

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  3. Renato, estou escrevendo um livro sobre a a avó. Elas são fundamentais para a nossa saúde mental, para nossa relação com o mundo. No meu livro, o personagem tem a impressão que é a avó que muda as estações, que faz as coisas acontecerem. Estou anotando todas as tuas importantes sugestões de livros para renovar minha biblioteca infantil. Na Feira do Livro de Passo Fundo, que vou participar como escritor, que fazer um balaio. Obrigado por nos poupar o trabalho de ler sem comprar.

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  4. Nesse mergulho de sinestesias, só posso dizer que são doces essas palavras, bem como a alma de quem as escreveu. Obrigado, Renato, por deixar que suas palavras transpareçam tamanha paixão e encantem a vida com o melhor da literatura.

    Que saudade dos meus avós, repletos de palavras misteriosas, tesouros de línguas distantes que eu me empenhava em decifrar...

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  5. Sou de um tempo em que os avós eram distantes da gente, como também os pais e tios... as crianças tinham um espaço muito delimitado na sociedade e não eram assim tão próximas dos adultos. Quase todos éramos criados assim, sem regalias e sem privilégios, com muito poucas exceções.
    Hoje, tudo mudou. Ouvi, outro dia, no 'Café Filosófico', Rosely Sayão dizendo que os pais são reféns dos filhos e que os filhos não pedem autorização aos pais, eles simplesmente comunicam o que vão fazer. E exigem, exigem muito. Pobres pais.

    Fico muito feliz em ser avó agora!
    E de tentar ser a avó que não tive, uma avó inesquecível para os meus dois netinhos Thomas e Isabel.
    De vez em quando chamo a atenção das mães para alguma coisa fora do lugar, "fora da ordem", como diz o Caetano, _e elas me ouvem, são minhas filhas.
    Mas sei que é muito difícil educar filhos em tempos de tanta tecnologia, de tantos iiiissss... de tanto apelo ao consumo. Tem que ser firme e doce ao mesmo tempo, _é possível!

    Posso falar de 'Diário de um Neto' de cátedra, pois além de ser avó, tenho o livro em minha estante.. preciosas ilustrações e texto sensível, parabéns pela escolha da semana!

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