A nossa eterna menina, que virou brasileira para sempre
Há exatos 33 anos o meu pai ficou encantado e eu – com 2 anos e 3 meses de vida – encarei a dona Morte pela primeira vez e precisei SER CRIANÇA apesar de tudo.
De lá para cá, a primeira semana de novembro sempre foi difícil para mim, ainda mais com o dia de finados logo no comecinho do mês, que sempre foi cinza... Esta semana que passou foi, além de cinza muito fria... a Natureza é sempre sábia e nos revela que sabe de todas as coisas. Curiosamente, recebi, da escritora Eloí Bocheco, o seu livro TUA MÃO NA MINHA (Habilis), vejam o texto de quarta capa:
“Em uma antiga brincadeira infantil, a menina Dúnia encontra um modo de elaborar a dor e o desamparo de uma grande perda. Descobre que pode continuar brincando o jogo infantil que aprendera com a mãe, que partiu. Brincaria pela mão da avó que transmitira a brincadeira à família. A personagem tira do imaginário o ponto de apoio para continuar caminhando, porque a vida e o jogo “Tua mão na minha” continuam, apesar de tudo. Uma história sobre o poder de cura das palavras brotadas da imaginação e dos afetos.”
A sensação que tive era que a Eloí – uma das escritoras mais sensíveis da nossa Literatura Infantojuvenil – também sabia de tudo e me enviou a história da menina Dúnia para me mostrar que eu não estava sozinho nessas grandes perdas de afeto.
Eloí, obrigado pelo carinho. Walther, obrigado pelas ilustrações que entraram no meu coração. Fabiano, obrigado por editar livros primorosos.
Amigos, TUA MÃO NA MINHA volta ao ninho, pois hoje, como prometido, é dia de SER CRIANÇA com a Tatiana Belinky e a Leda Catunda. Uma grande homenagem da Companhia das Letrinhas à escritora que conheceu profundamente a alma das crianças.
“Ser criança é ser otimista,
Fazer da vida coisa de artista.”
TATIANA BELINKY
Em SER CRIANÇA (Companhia das Letrinhas), a eterna menina Tatiana Belinky me diz que podemos ser crianças, mesmo que a vida não queira que isso aconteça. Esse livro, uma verdadeira obra de arte, já nos encanta pela capa: alegre, colorida, Tatiana Belinky! Ao virar as primeiras páginas encontramos o artista Alberto Martins com um belíssimo texto, uma verdadeira ode de amor à Belinky! Em suas palavras encantadas, nos sentimos mais próximos da autora, da autora criança. “Sentada na poltrona de sua casa no bairro do Pacaembu, em São Paulo, Tatiana Belinky me contou dois episódios de sua infância em Riga, na Rússia, que se gravaram em mim com a força dos acontecimentos poéticos.” Logo depois o convite ao poema SER CRIANÇA e às ilustrações de Leda Catunda.
A força da beleza na obra de Leda Catunda me ajudou a reencontrar a alegria neste 9 de novembro de 2013.
Ao final, lemos MENINA TRANSPLANTADA, da nossa eterna menina que virou brasileira para sempre em 1929. Ali, Belinky nos diz que SER CRIANÇA no Brasil ou na Rússia é quase a mesma coisa. A grande mensagem do livro – para mim pelo menos – é entender com o coração de criança que os grandes seres almados não devem morrer jamais. Tatiana VIVE.
TATIANA BELINKY
“ Não sou poeta, sou uma ‘trança-rimas’ – é assim que Tatiana Belinky (1919-2013) se definia quando alguém lhe perguntava sobre seus poemas. Na verdade, várias palavras são necessárias para retratar suas décadas de dedicação à literatura e à cultura: poeta, tradutora, dramaturga e pioneira da televisão no Brasil, Tatiana, que veio de Riga com dez anos de idade, consagrou-se principalmente por sua obra para crianças.
Publicou seu primeiro livro infantil – A ALTERAÇÃO DO TIO ONOFRE – em 1985, e desde então foram mais de cem títulos, que mereceram inúmeros prêmios e homenagens.
Tatiana morreu em junho de 2013, deixando uma obra recheada de humor, delicadeza e de um grande ensinamento: de que a literatura, antes de mais nada, é um grande prazer que deve ser compartilhado.
Tatiana escreveu este poema no final de 2012, como um tributo à infância, e agora, em livro, ele é uma homenagem à própria escritora, que nunca deixou sua irreverência e simplicidade infantis para trás. Além de falar sobre tudo o que significa, para ela, essa fase da vida, Tatiana mostra que ser criança no Brasil não é muito diferente do que ser criança na Rússia. Esse é o tema de outro poema escrito por ela, MENINA TRANSPLANTADA, que conta um pouco sobre a sua vinda para a terra do Carnaval e tem o nome muito parecido com um de seus livros mais conhecidos: TRANSPLANTE DE MENINA, sobre a sua infância.”
http://www.companhiadasletras.com.br/autor.php?codigo=00035
LEDA CATUNDA
“Nasceu em 1961, em São Paulo, onde vive e trabalha. Se formou em artes plásticas na FAAP em 1984, e depois deu aulas de pintura e desenho por muitos anos. Desde 1983, ela expõe suas obras em museus e galerias no Brasil e em vários países do mundo, e já participou de três edições da Bienal de São Paulo. Em 2003, obteve o título de doutora em artes pela Universidade de São Paulo e, em 2009, fez uma exposição retrospectiva de meio de carreira na Estação Pinacoteca.
Quando ainda estava no colégio, era amiga de uma menina que se chamava Mirian Belinky e que um belo dia lhe apresentou sua tia Tatiana Belinky, já dizendo: - Minha tia é uma escritora muito importante. Ela escreve pra crianças...”
http://www.ledacatunda.com.br
Amigos, um ótimo final de semana e até sexta!
Dia 15, Passarinho se encontrará com CARMELA CARAMELO (Cortez), de Cris Rogério e André Neves.
Agradecimentos:
A todos que me emocionaram com compartilhamentos no facebook e com comentários belíssimos sobre o texto “Tino Andersen Freitas”, principalmente estes dadivosos, que tiveram a gentileza de postar no PASSARINHO as suas impressões:
Heloisa Leandro, Olga Samia Sales, Vinícius Linné e Carlos Fernando Galvão.
Um abraço especial para Júlia Moritz Schwarcz e Diana Passy.
Renato Coelho
Apaixonado pela Literatura Infantojuvenil.
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E o sol deste dia trouxe a alegria de volta, mandando embora o cinza triste. Crianças nunca deveriam sofrer, é injusto.
ResponderExcluirTatiana Belinky esteve muito presente em minha infância, juntamente com Júlio Gouveia, seu marido e companheiro das artes.
O 'Sítio do Pica Pau Amarelo' enchia nossa vida de criança de alegria e encantamento! E como se esquecer das histórias contadas por Júlio Gouveia em seu 'Teatro da Juventude'?
Grande homenagem a sua, Renato, a essa avó que todos gostaríamos de ter tido, a essa "menina transplantada"...
Renato, que post! Muito emocionada, pois tenho um filho de três anos e muitas vezes em meus pensamentos e orações tenho vontade de ser Deus e nunca deixar que ele passe por tamanha dor.
ResponderExcluirLinda homenagem à Tatiana Belink! Estou sem palavras ainda....
Participei de uma conversa na Bienal com a Tatiana Belinki já de cadeira de rodas porém o mesmo olhar de criança....foi lá que pude ficar pertinho analisando todo seu jeitinho maroto...lá, ela contou como escrevia....um jeito que eu nunca poderia fazer...é só dela mesmo. Fiz toda a imagem dela sentada em sua poltrona, cheia de papeizinhos recheados de ideias, imaginei casinha de vó, casa de D. Benta, cheia de crochê por todo lado (pois casa de vó tem que ter crochê, pelo menos pra mim!). Ai Renato, ainda bem que continua criança....assim nos escreve cheio de toda sinceridade!! Beijos
ResponderExcluirTatiana deixou uma obra incrível. No meu 'menu' de mediador de leitura tem sempre uma obra dela. Mais uma vez parabenizo o Passarinho por possibilitar um espaço para ler e discutir literatura infantil do garbo da nossa Belinky.
ResponderExcluirtão bom contar histórias que mostram que nossas vidas se encontram... beijo Renato!
ResponderExcluirQuando eu estava no segundo ano primário aos 8 anos de idade, em São Paulo, nossa classe recebeu uma importante escritora,Tatiana Belinky......Nos fez sonhar com suas palavras, muitas foram as perguntas das crianças, eu fui uma delas....Naquele dia tive a confirmação de que meu desejo de ser desenhista de livros, era mesmo o meu caminho.
ResponderExcluirObrigada, Renato, por este espaço encantador.
beijos
Fabiano está fazendo um grande trabalho com uma editora do interior. A sensibilidade e o apurado cuidado fará muito bem para a literatura do Rio Grande do Sul.
ResponderExcluirTatiana me marcou com "O Grande Rabanete". Uma história simples e complexa ao mesmo tempo. Embora nascida no exterior, como Clarice, conseguiu ser grande brasileira com as palavras. Aqui no Rio Grande do Sul chamamos "Orelhano" ao boi que não tem marca de propriedade, que não pertence a nenhuma fazenda. Por extensão, usamos para falar de quem circula livre entre as fronteiras. Tatiana e Clarice são orelhanas de nossa literatura, nasceram no estrangeiro, escreveram como brasileiras, e produziram uma literatura universal.
Me lembrei de uma outra Orelhana tão cara ao Renato: Marina Colasanti, nascida na Etiópia. Bom lembrar que Marina e Affonso publicaram recentemente o livro "Clarice". O casal de escritores fala da amiga, também escritora, com propriedade e competência.
ResponderExcluirRenato, que emocionante! Bela homenagem a eterna menina brasileira! Essa sim, encontrou a fonte da juventude através da literatura!
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