“A mão do meu pai que, naquele dia, amei sobre todas as coisas”
“Veio para o meu lado. Afagou meus cabelos. Era o primeiro cafuné que eu ganhava depois de grande. Peguei na mão do meu pai. Mão grande, grossa, áspera. A mão do meu pai que, naquele dia, amei sobre todas as coisas. Aquela mão, grande como baleia. Grande feito árvore frutífera.”
É a segunda vez que escrevo sobre Visita à baleia (Editora Positivo), livro belíssimo de Paulo Venturelli e Nelson Cruz. Esse livro é tão poderoso que, nessa leitura para o Passarinho, eu não me vi na pele do César, filho mais velho, me vi na pele do caçula. Pouquíssimas histórias têm essa força de nos levar para um outro olhar, um outro personagem. Voltei no tempo rapidamente e me vi no colo do meu pai. Eu, meu irmão mais velho e o pai indo ver a baleia! Foi tão bom!
Mas antes de continuar preciso enfatizar o grande trabalho do editor Marcelo Del’Anhol e sua equipe! Visita é PERFEITO! Ah se todos os editores fossem como Marcelo... nossas crianças e jovens cresceriam mais apaixonados pelo mundo editorial e literário!
Acabei a leitura muito emocionado (de novo), pois a história de Venturelli e as iluminadas ilustrações de Nelson Cruz deixam tudo mais verdadeiro, mais com cheiro de verdade! Venturelli e Nelson se entregam verdadeiramente à história! Eu me vi criança e com o meu pai! Ao ler esse livro eu vivo uma história de amor, de amor de pai para filho. Perdi o meu pai muito novo e não me lembro dele... no entanto, essa história me faz ter uma infância completa, plena! Me traz o amor que eu nunca vou ter.
O pai da história é daqueles bem tradicionais, patriarcais mesmo na plenitude da palavra... mesmo assim, eu me completo. Vejam isso:
“- Você não vê que isso não são modos de falar com adulto?”
“-Mais uma palavra, e você desce da bicicleta e vai direto pra casa!!!”
Como eu queria ouvir essas palavras!! De certa forma eu ouço, pois esse livro é tão de alma e coração que o meu pai se materializa na minha frente, tamanha a força das palavras do querido Venturelli!
Visita à baleia me traz tantas sensações! A de ter o meu pai de volta, de felicidade por esse reencontro ou encontro e de tristeza pois, com o final da história, o meu pai também vai embora! Amigos, são muitas sensações... são muitos sentimentos... e que só um livro muito especial pode nos presentear. Nesse momento, eu queria pegar a mão do meu pai e amá-la sobre todas as coisas, como César fez. Se amanhã você encontrar o seu pai, abrace-o, beije-o e diga a ele que você o ama! Visite a baleia!
Visita à baleia já ganhou vários prêmios, entre eles, FNLIJ, Crescer e outros!
http://www.youtube.com/watch?v=_Oshjpu0N38
É a literatura que me interessa; o resto é, para mim, confusão.
Philippe Sollers
Paulo Venturelli nasceu em Brusque, SC, no Verde Vale do Itajaí, em 17.12.50. Filho de Valério Venturelli e Bertinha de Limas Venturelli, operários tecelões. Menino tímido, frágil, cheio de perguntas, não teve uma infância das mais venturosas. Em 59, começa o primário no Colégio Santo Antônio, das irmãs da Divina Providência. Notem bem: colégio particular, pago pelo pai operário. O Brasil era “outro”, antes de golpe militar de 64. Aprendeu a ler com a Irmã Celeste – o nome já diz tudo. Saiba mais em http://pauloventurelli.wordpress.com/biografia/
Nelson Cruz nasceu em Belo Horizonte e, atualmente, mora e trabalha em Santa Luzia, cidade da região metropolitana. Desde 1998 ilustra para o mercado editorial. Saiba mais em http://nelsoncruzilustrador.blogspot.com.br/
Amigos, um ótimo final de semana e até sexta!
Dia 20 Passarinho ficará ENTRE A ESPADA E A ROSA, de Marina Colasanti!
Agradecimentos:
A todos que me emocionaram com compartilhamentos no facebook e com comentários belíssimos sobre o texto “só trago aqui no peito este canto que me invade”, principalmente estes dadivosos, que tiveram a gentileza de postar no PASSARINHO as suas impressões:
Heloisa Leandro, Karin Krogh e Pablo Morenno.
Renato Coelho
Apaixonado pela Literatura Infantojuvenil
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Que palavras sábias e lindas. Lúcidas e importantes para quem ama e crê no poder transformador da leitura.
ResponderExcluirFico sempre na expectativa de qual será o convidado da semana, e me deparo com uma declaração de amor filial irrestrito, saudoso, emocionado, que me faz refletir sobre a minha relação com meu pai. E concluo que, se houve qualquer erro na nossa infância, nada foi proposital, _a juventude de nossos pais os redime de qualquer falta.
ResponderExcluirUm belo texto sobre amor pai e filho, me lembrou o maravilhoso filme 'Num Lago Dourado' com Jane Fonda e seu pai.
A boa literatura é mesmo capaz de um ciclo infinito. Ao acompanhar o texto do Passarinho e as citações de "Visita à Baleia" percebo em cada palavra a paixão do Renato pela obra. Paixão essa que, acompanhada da sua própria história, conseguiu me emocionar de um modo muito belo e profundo.
ResponderExcluirFalar sobre meu pai tem sido muito delicado para mim. Esse texto fez com que eu revivesse minha infância inteira, meu tempo de ter entre as minhas as mãos do meu pai, as mãos nas quais eu praticamente me pendurava quando caminhávamos na rua, as mãos que seguravam o guidão da minha bicicleta enquanto eu aprendia a andar, as mãos que brincavam de carrinho comigo... Tudo aquilo que fez com que eu crescesse com um pai, mesmo que ausente muitas e muitas vezes.
V. Linné, que bela reflexão! Com a maturidade, entendemos e perdoamos mais.
ResponderExcluirQue lindo Renato, eu tenho um pai, que já foi ausente, austero, o chamado Rei da casa...sueco, era rígido. Estas foram as minhas lembranças....hoje, ele é um abraço gostoso, um ouvido atento, a alegria dos netos, o suporte das filhas....e é esta lembrança que eu guardarei dele. Nossa, fiquei com raiva de você e do Paulo Venturelli, me fizeram chorar logo de manhã.
ResponderExcluirRenato, fico aqui imaginando a sua sorte (e de tantos outros!) em poder ler tantos livros brasileiros lindos. Essa gota enorme que me separa do Brasil, me deixa ansiosa querendo ler tudo e suas postagens só me deixam mais curiosa ainda. Tenho que me contentar com a mala cheia uma vez por ano e olha lá! Esse livro já recebu tantos elogios (e prêmios!) e a expectativa é grande. Mas tenho a sensação que não irá desapontar. Bem possivelmente irá encantar!
ResponderExcluirObrigada por dividir seu ponto de vista e sua sensibilidade. E quando se trata de perda de pai e mãe, a gente não cresce nunca. A minha se foi há 4 anos e é como se faltasse há 34!
Beijo