“Feito de areia e mar de saudade”

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Andres e Tatiana TANTO MAR

 

TANTO MAR (Galerinha/Record), livro primoroso da escritora Tatiana Salem Levy e do ilustrador Andrés Sandoval, mexeu comigo pela escrita que fica, pelas imagens inovadoras, e principalmente pela ida paterna... Thaís, nossa menina protagonista, viu o seu pai “encantar”, e eu sempre vou achar que os nossos amores não deveriam ficar encantados jamais...

“Numa madrugada escura, o pai de Thaís saiu para pescar e nunca mais voltou. “Deve estar lá no fundo. Aprendeu a nadar e gostou do que viu. Encantou..."

Sempre que ia à praia catar as coisas do mar, ela imaginava que um dia as ondas trariam o pai, com rabo de peixe que nem sereia. Mas esse era um segredo que ela guardava escondido, não contava a ninguém.”

TANTO MAR começa com “Era uma vez” nos fazendo mergulhar na vida da Thaís, numa ilha muito distante. A ilha não tinha nome, e nela não havia luz elétrica, televisão, celular e nem internet. Mas havia areia, caranguejo, guará-vermelho, silêncio e pique-pega! A nossa menina tinha uma brincadeira que era só dela: gostava de catar as coisas que o mar trazia... concha, lula, estrela-do-mar, cavalo-marinho... e também coisas inusitadas como latas de refrigerante japonês, sapato furado, chocolate angolano, chapéu mexicano... e as fotos molhadas que Thaís botava pra secar ao sol.

“Na praia do sul, Thaís era muito triste e muito feliz. Era muito sozinha e nunca estava só.

Quando alguém lhe perguntava o que queria ser quando crescesse, ela respondia: Quero ser mar.”

O tempo foi passando, e Thaís continuava gente, não ganhava rabo de peixe, nem barbatanas. A ilha encurtou e ganhou luz elétrica, mas nem tudo fica iluminado, pois o pai não voltava, com tanta descoberta que o tempo trazia, Thaís acabou por descobrir também que o pai não ia voltar. Não adiantava catar coisas na areia, conversar com as estrelas, não adiantava pedir para o mar trazê-lo de volta. O tempo do pai já tinha passado. Nesse momento, a nossa menina percebeu que o perto não lhe bastava mais... ela necessitava do longe.

Confesso que não sou tão resignado como a personagem de TANTO MAR, ainda mais quando o assunto são as perdas terríveis da vida, quando o mar nos traz águas um tanto quanto agitadas... Como disse Andrés Sandoval, esse livro é feito de areia e é verdade. Feito de areia e  mar de saudade.

Entrevista com Tatiana Salem Levy

www.youtube.com/watch?v=SrBwPys8Wio

BIO TATIANA SALEM LEVY

“Nasci em Lisboa, mas tinha menos de 1 ano quando vim para o Rio de Janeiro, onde moro até hoje. Desde pequena, eu gostava de ouvir e contar histórias, e foi por isso que decidi ser escritora. Comecei pelos livros de adulto. Meu primeiro romance se chama ‘A chave de casa’.

Com ele, ganhei o Prêmio São Paulo de Literatura 2008 e viajei para muitos países. O segundo se chama ‘Dois rios’. O terceiro ainda estou escrevendo, e por isso não posso contar o nome. É segredo.

Em 2012, comecei a escrever para crianças e, vejam que sorte, ganhei o prêmio de escritora revelação da FNLIJ com o livro ‘Curupira Pirapora’.

A ideia para ‘Tanto mar’ surgiu no dia em que conheci uma ilha muito distante, repleta de histórias mágicas. O lugar era tão lindo que fiquei com vontade de falar um pouco dele para vocês.”

www.record.com.br/autor_sobre.asp?id_autor=283

BIO ANDRÉS SANDOVAL

“Nasci em 1973 e moro em São Paulo, onde trabalho como artista gráfico. Cursei arquitetura na Universidade de São Paulo, mas trabalho bastante com livros.

Em ‘Tanto mar’, minha proposta não foi desenhar a personagem por inteiro, mas usar as ilustrações como se fossem a própria visão dela. Ao longo da história, o horizonte vai aparecendo para o leitor.

Ah, e o livro, apesar dos azuis, é feito de areia.”

www.andressandoval.com

O outono chega com mais editoras parceiras! :)

Sejam bem-vindas ao ninho, Carochinha, Cosac Naify e Galerinha/Record!

Vejam quem chegou de Bragança Paulista! Henriette, mais uma vez, obrigado de coração pela delicadeza!

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Agradecimentos:

A todos que me emocionaram com compartilhamentos no facebook e com comentários belíssimos sobre o texto “Anete e seu passarinho adorável!”, principalmente estes dadivosos, que tiveram a gentileza de postar no PASSARINHO as suas impressões:

Vinícius Linné, Ronize Aline, Karin Krogh, Adeilson Salles, Henriette Effenberger, Agostinho Ornellas, Rafael Mussolini, Pablo Morenno, Joca Monteiro e Ana Benevides.

Um beijo de aniversário para a querida Anna Rennhack!

Renato Coelho

Apaixonado pela Literatura Infantojuvenil.

 

5 comentários:

  1. Que sensível essa história. Confesso que corro de livros assim por causa do tema. Evito o inevitável até onde posso, como uma criança que vive num lugar que não há. Falar de perdas nunca vai ser fácil nem para que vai perder e nem para quem já perdeu. Não é fácil porque é condição humana e mais cedo ou mais tarde encaramos a cara amassada, velha e cínica que tem a Sra Fim. Há pouco tempo, entornei o tema num texto meu que estava pulsando e deveria virar um conto infantil. Virou e me faz triste pelo que é: condição e permanência. E o que temos aqui com esse livro é a alegria de poder ouvir assunto feio com uma beleza quase impossível. Só não é impossível porque a autora e o ilustrador apresentam o "fim" através do alívio que são a arte e a poesia. E quem tem juízo que se agarre à beleza do feio! Mais um livro pra voltar comigo.

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  2. Toda perda é difícil, seja ela de objetos, de oportunidades, de tempo... Não há, no entanto, pior perda que a de gente, seja longe ou perto da gente. Ontem li que uma publicitária americana perdeu suas 3 filhas em um incêndio na noite de Natal há 2 anos. Muito distante de lá, outra perda aqui, uma mulher simples que é 'salva' pela polícia mas que morre arrastada pelo próprio salvador. Em ambos os casos, perdas incompreensíveis, _sofre a mãe das 3 filhas, sofrem os filhos que ficaram órfãos da mãe. As dores, iguais. Não há dor maior que outra.
    Sinto fazer uma análise tão triste do livro da semana, mas qualquer perda me entristece também.
    Felizmente, a poesia das palavras e a beleza das ilustrações nos salvam.

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  3. Henriette Effenberger28 de março de 2014 às 06:11

    Como não se apaixonar por alguém que ser mar quando crescer? E por alguém que descobre que o perto não lhe basta?
    E que sem rabos de peixe, nem barbatanas, continuando gente, ainda assim seu destino era ser mar! E em " Tanto mar"...transformou-se pelas mãos de Tatiana Salem Levy.

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  4. Poxa Renato!
    Mais uma vez você faz um comentário tão bonito do livro que a gente fica com vontade de ler ele.
    A Tatiana eu não conhecia, mas sou um fã confesso do trabalho do Andrés.

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  5. Tanto Mar, Tanto Mar... sei também como é preciso, pá, navegar, navegar...

    Do título ao desfiar emotivo da resenha, o livro já nos prende como peixinhos na rede. A autoria é portuguesa e isso, por si, já explica todo esse amor pela imensidão azul.

    beijos Renato!

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